FUTURO?!?!
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Minha vida é muito diferente.
A começar pela minha noite.
Durmo embaixo de uma marquise.
Marquise esta de um prédio localizado numa rua bastante movimentada. Meu local
junto à marquise está demarcado. Participo com meus colegas de um verdadeiro
hotel – “hotel de muitas estrelas” – cada um tem seu “apartamento”...
No início da noite passa uns
amigos e nos fornece “sopa”. Muito gostosa e muito quente. Fizemos fila para
receber o “presente”. Não conhecemos o “fornecedor”, mas sabemos que ele nos
“conhece” e nos “conforta”... Temos dificuldades... para muitas coisas!
Com chuva. Com frio. Com calor.
Todas as noites estamos na fila.
Com muita alegria!!!
Após iniciamos a jornada do sono.
Alguns colegas, para se aquecer,
esquecem a moderação do álcool, mas em contrapartida sabem que não vão
dirigir...
O amanhecer é muito cedo para
todos nós.
Não tomamos café, mas procuramos
uma água para realizar a higiene. Guardamos nossos pertences. Limpamos o
“hotel”.
Vamos logo ao trabalho.
Muitos são “carrinheiros”.
Outros, como eu, vamos às
esquinas movimentadas realizar piruetas com as “bolinhas” de borracha.
Fico sempre na mesma esquina.
Muitos motoristas já me conhecem
e reconhecem o meu trabalho. Outros não dão bola. Nem olham!
Com sol. Com frio. Com chuva.
Feriados ou não. Sempre a mesma
rotina. Já faz tempo! Muito tempo...
Na hora do meio dia passo numa
fruteira, quando o dia foi de “bons negócios”... Ali adquiro uma fruta ou um
pão com salame e queijo. Fico sorridente nesse dia e nessa hora...
Logo em seguida volto ao batente.
Canso. Fico muito cansado no
final da jornada.
Não peço esmolas.
Tenho o meu trabalho.
Um dia destes um repórter de TV
esteve no meu local de trabalho e me perguntou se sou feliz.
E eu respondi sem pensar: Sou
feliz..., mas gostaria que minha felicidade fosse maior...
E ele me perguntou: porque?
E eu disse: gostaria de ter
família. Tenho saudade da minha família. Sei que junto à marquise somos uma
família. Família grande... Mas gostaria de ter conhecido meus pais. Fui
abandonado, quando pequeno, embaixo de uma ponte. Lá fui criado por amigos. A
eles devo minha existência.. Minha vida!
Sou hoje um artista.
Um artista de rua.
Não sou valorizado, mas eu me
valorizo. Cada vez estou aprendendo mais. Cada dia para mim é um aprendizado.
E o repórter ainda perguntou: e o
futuro?
Respondi: “o futuro a Deus
pertence...”
Assim é a minha vida.
Assim penso.
Assim é a minha rotina
Assim acredito que muitos de meus
“colegas” pensam...
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Assim vivem muitos brasileiros.
Pensando bem eles tem razão: “o
futuro a Deus pertence...”
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