quarta-feira, 28 de setembro de 2011

VIVER (OU PENSAR) NO PASSADO

Viver (ou pensar) no passado...

David Iasnogrodski – escritor, engenheiro, administrador

david.ez@terra.com.br   blog: davidiasnogrodski.blogspot.com



Ruas arborizadas?

Não tantas. Mas as que eram arborizadas eram bastante frondosas. E como eram... Principalmente na Primavera!

Mas as pessoas se cumprimentavam nas ruas com um largo sorriso nos lábios.

Se conheciam. Se ajudavam.

Sentavam junto às calçadas.

Nos finais de tarde...

Com “cadeiras preguiçosas”... Lembram?
Talvez muitos de vocês não conheceram as “cadeiras preguiçosas”. Eram de madeira com assento de lona.... Confortáveis!

O chimarrão, a coca-cola, a cuca de mel, bolachinha “Maria”. Tudo na calçada. Um piquenique diário.

Uns passavam.

Outros paravam, mas todos se conheciam.

Vinha a noite.

Muitas vezes, dependendo da temperatura, com a lua cheia, continuavam a “charlar” junto às calçadas.

Crianças correndo.

Brincando, com brincadeiras inocentes, como inocente é a criança... De esconde-esconde. De pegador. Jogando bola. Jogando peteca. Brincando com bonecas, ou  até conversando a respeito da escola. Todos ali...

E depois jantavam. Toda a família. Uns continuavam a ouvir rádio. Eram as rádio-novelas, patrocinadas pela Gessi-Lever ou Colgate-Palmolive. Muito drama... Muita ação... Tudo no rádio.

Outros iam dormir.

No outro dia era a rotina do levantar. Higiene. Tomar café. Conversar um pouco. Ler o jornal. Ouvir o Repórter Esso e ir ao trabalho...

De ônibus. A pé ou de táxi. Muitos iam com seus “carrões”. Os felizes proprietários de um automóvel... eram poucos. Mas existiam. Tinham até garagem em suas residências.

Hoje é a vez dos congestionamentos. Grandes congestionamentos. Muitos carros, carrinhos e “carrões”. Todos a rodar ou parar... Todos! São os congestionamentos urbanos das nossas “mal traçadas” vias urbanas do século XXI. Congestionamentos juntos da (in)segurança urbana.

Vamos pensar: Não ficamos mais junto às nossas calçadas. As calçadas até estão um pouco esburacadas... Mas não é em função da nossa presença….

Ninguém mais conhece “ninguém”.

Grades nas janelas.

Grades nas portas.

Grades nos jardins.

Cercas eletrônicas junto a todas as aberturas...

Crianças não brincam mais nas calçadas. Vemos, isso sim, são crianças junto às esquinas solicitando uma moedinha.

Observamos câmeras de vídeo junto a todas as portarias.

Porteiros 24 horas.

Seguranças de roupa preta andando pelas calçadas.

Casinholas nas esquinas onde os “seguranças” estão a nos proteger.

Proteger de quem?

Deles...

Portas chaveadas com trancas de ferro

Portas com quatro ou mais fechaduras “dobermann” ou superior.

Alarmes em todos os lugares.

Os carros além dos tradicionais alarmes parecidos com as sirenes das ambulâncias, possuem películas para que as pessoas do seu interior não sejam vistas, além de outros apetrechos para evitar os assaltos. E assim mesmo eles acontecem a todo instante em todos os lugares.

Onde vamos chegar?

É a realidade do nosso século. O século XXI. O século da tecnologia da informação e do desenvolvimento. Será que é o desenvolvimento da insegurança urbana?

Fico a pensar: Se voltar no tempo é viver no passado, acredito que seria melhor viver naquele tempo.

Não tínhamos celular e nem TV de Plasma. Não tínhamos computador nem outros equipamentos sofisticados dos dias de hoje mas éramos “humanos” vivendo como “humanos”.

E hoje?

Vivemos em quatro paredes, onde o máximo que olhamos são as grades.

Vivemos numa prisão e com medo. Isolados do mundo. Sem conversar em função do constante medo.

- Vou parar. Está soando o alarme. Qual? Do carro? Da casa? Do prédio? Não sei. Só sei que estou com medo. Não posso nem pegar a bolacha “Maria”, pois o barulho tradicional de mastigar pode demonstrar que aqui tem gente. Vou parar... Estou com medo.
Muito medo...

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